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domingo, 16 de setembro de 2007

:: Independência, Revolução e Maçons ::

No dia 2 de setembro recebi um convite para fazer uma palestra em alusão a semana da Pátria e à Semana Farroupilha, na Loja Maçônica Amor e Caridade IV, aceitei o convite e fui em busca de informações históricas em livros de história e livros de históricos maçons. Busquei informações, li alguns livros e apresentei uma palestra no sábado dia 15 de setembro, com duração de vinte minutos, o tema que resolvi abordar é vasto na literatura profana e maçônica e para fazer uma apresentação, seria necessário um seminário. Como não dispunha deste tempo, e sem a pretensão de tratá-lo em profundidade, abordei pequenos textos da história, apenas para repassar informações necessárias sobre os acontecimentos e a atuação da Maçonaria e de Maçons nas questões da Revolução Farroupilha e Independência do Brasil.

Percebi o quanto a Maçonaria fez para estes fatos ocorrerem e quero trazer aqui pequenos textos retirados dos livros.

José Castellani afirma:

“A obra máxima da Maçonaria brasileira e a única de que ela participou de fato, como Instituição, foi a independência do Brasil, em 1822 no mesmo ano em que os Maçons brasileiros criavam a primeira Obediência nacional, o Grande Oriente Brasílico, ou Brasiliano, que posteriormente viria a ser o Grande Oriente do Brasil”.

É claro que Castellani caracteriza a ação maçônica nacional e sua afirmação não é excludente em identificar uma ação regionalizada desenvolvida por Maçons gaúchos e outros até de outra nacionalidade no episódio histórico conhecido como “Revolução Farroupilha”.

Quanto ao episódio da independência, ainda acompanhando a opinião de Castellani, há que compreender que a independência política do país não foi obra exclusiva dos Maçons já que D. João VI ao elevar o Brasil à categoria de Reino Unido ao de Portugal e Algarves em 1815, separou de fato o Brasil de Portugal dando o primeiro e decisivo passo para a sua independência.

A estreita comunicação entre D. Pedro e D. João VI, em cartas, demonstra que os fatos que transcorriam eram do conhecimento e concordância de D. João VI.

Através de minha pesquisa tive conhecimentos sobre a iniciação de D. Pedro contribuiu fortemente para o processo de emancipação brasileira e isto interessava à Maçonaria como também interessava a D. Pedro estar apoiado pelos Maçons, já que formavam à época uma forte corrente política.

Em 09 de janeiro de 1822, o conhecido episódio do “Fico” teve a inspiração e liderança dos Maçons José Joaquim da Rocha e José Clemente Pereira. "O Príncipe Regente recebeu três documentos feitos sob inspiração e liderança maçônica rogando por sua permanência no Brasil em descumprimento dos Decretos nº 124 e 125 das Cortes Portuguesas.

O documento paulista foi redigido por José Bonifácio de Andrada e Silva, o documento dos fluminenses foi redigido pelo Frei Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio, orador da Loja “Comércio e Artes" e o documento dos mineiros foi liderado por Pedro Dias Paes Leme. No Convento da Ajuda, na cela do Frei Sampaio reuniam-se os líderes do movimento”.

Este fato pitoresco de Maçons, de reunirem-se em segredo num Convento tem conotação com as reuniões que hoje são realizadas nas Lojas Maçônicas, guardadas as devidas proporções.

Decidida a questão do “Fico”, acentua-se o processo de discussão e sob a liderança de Joaquim Gonçalves Ledo a Maçonaria decide, por proposta do brigadeiro Domingos Alves Branco Muniz Barreto, outorgar a D. Pedro o título de “Defensor Perpétuo do Brasil”.

Tão logo foi fundado o Grande Oriente Brasílico José Bonifácio de Andrada e Silva foi escolhido como Grão Mestre e Joaquim Gonçalves Ledo como Primeiro Grande Vigilante. Havia, no entanto uma luta ideológica entre os Grupos de Bonifácio e de Ledo.


D. Pedro foi iniciado na Loja “Comércio e Artes” no dia 02 de agosto de 1822 adotando o nome histórico de Guatimozin. No dia 05 de agosto, ou seja, três dias depois se tornava Mestre Maçon.

Antonio de Menezes Vasconcelos Drumond, voltando de missão maçônica nas províncias de Pernambuco e Bahia, no final de agosto de 1822 relata em suas “Memórias”:

“José Bonifácio havia também naquelle dia ou na véspera, recebido novas de Lisboa; e juntas estas com aquelas que eu trazia (da Bahia) julgava conveniente acabar com os paliativos e proclamar a independência. Fosse esta a causa isolada ou cumulativa com os seus desejos de ser a independência proclamada na sua província, o caso é que elle desde logo entendeu que se não devia adiar para mais tarde este acto. O príncipe já estava em S. Paulo e se a occasião não fosse aproveitada quem sabe se outra se poderia proporcionar tão cedo”.

O relato segue:
“... No Conselho decidiu-se proclamar a independência. Enquanto o Conselho trabalhava, já Paulo Bregaro estava na varanda prompto a partir em toda diligencia para levar os despachos ao príncipe regente. José Bonifácio ao sahir lhe disse: - Se não arrebentar uma dúzia de cavalos no caminho, nunca mais será correio; veja que faz.”

Sobre a data máxima dos gaúchos e procurando registrar e dar evidência a atuação dos Maçons nos acontecimentos políticos de nosso Estado é preciso dizer antes de tudo que Bento Gonçalves era membro ativo do quadro da Loja “Philantropia e Liberdade”, que Davi Canabarro foi iniciado em 14 de novembro de 1841 na vila de Alegrete. Ombreando ideais e combates ao lado destes estavam Tito Livio de Zambeccari e Giuseppe Garibaldi iniciado em 1836 na Loja “Asilo da Virtude”. A associação de Zambeccari e Garibaldi aos Farroupilhas deu-se pela comunhão de princípios cristalinos que a Ordem preconiza de Liberdade, Defesa de povos oprimidos e combate ao autoritarismo. Os Maçons em qualquer parte do globo terrestre estão convocados a defenderem estes princípios e prestarem auxílio aos que combatem diretamente. Assim foi quando o líder Farrapo esteve preso no Forte São Marcelo na Bahia.

No livro “A Maçonaria na Independência” os irmãos Ferreira afirmam textualmente:
“Assim, no dia 28 de junho daquele ano na Loja ”Virtude“ ao Oriente da Bahia o Irmão Secretário apresentou uma prancha do Irmão Bento Gonçalves da Silva, grau 18, de que ficou a Loja ciente, logo nomeados os Irmãos Guimarães, Manoel Joaquim e Marques para se dirigirem por parte da Loja ao dito Irmão e participarem-lhe que ela ficou inteirada, e que faria o que estivesse ao seu alcance a fim de melhorar a sua sorte...”

E no dia 30, na Loja “Fidelidade e Beneficência”, foi lida outra prancha de Bento Gonçalves e a Loja inteirada nomeou os Irmãos, Tesoureiro e o Orador Adjunto para visitarem o Irmão Bento Gonçalves e lhe oferecerem os socorros de que ainda necessitasse. Registre-se também que um dos fundadores da Maçonaria era o próprio comandante do Forte de São Marcelo. Pouco tempo após, Bento Gonçalves obtinha licença para nadar pela manhã e embrenhava-se no mar a nado sendo recolhido na crista de uma onda e levado para a praia onde esperavam-no conspiradores de chapéu alto.

É também interessante conhecer a Ata nº 67 lavrada aos dezoito dias de setembro de 1835 na Loja “Filantropia e Liberdade” em Sessão dirigida pelo Venerável Mestre Bento Gonçalves da Silva. O tempo aqui não me permite transcrevê-la, mas importante é dizer que naquela reunião é anunciada a data de 20 de setembro para início do movimento revolucionário.

Muitos outros Maçons estiveram envolvidos no movimento Farrapo, mas, antes de enumerar uma lista enorme prefiro mencionar um símbolo que é de todos os gaúchos e que imortalizou o registro da participação da Maçonaria. É a Bandeira do Rio Grande do Sul que foi idealizada na Loja Philantropia e Liberdade. Observa-se na Bandeira e no Brasão riograndenses as colunas “B” e “J” bem como os triângulos invertidos com a espada sustentando o capacete entre os ramos da acácia.

Estes dois episódios da vida política brasileira e gaúcha envolveram além de Maçons outros cidadãos, lideranças conscientes de seu papel que buscaram pelo diálogo ou pelo combate a defesa de direitos fundamentais de liberdade. A motivação destes homens, organizada em Loja ou não sempre foi a de construir uma sociedade mais justa e mais igual. A têmpera de seu caráter como observamos foi forjada na prática de procedimentos maçônicos no exercício da Arte Real.

A autonomia política e econômica de uma Nação não se completa com um movimento independentista. É um processo longo que exige a participação de toda sua sociedade em muitas gerações.

Hoje, o importante é que relembramos e saudamos as ações de brasileiros destemidos, de gaúchos corajosos e que resgatamos os registros da importância dos maçons na história brasileira e gaúcha. Isto nos dá a certeza de que melhores tempos virão. E de que estes tempos futuros serão fruto do nosso envolvimento e prática social, na construção do nosso dia a dia.

Fontes:
Ferreira - Manoel Rodrigues e Tito Lívio - “A Maçonaria na Independência”. Brasileira – Gráfica Biblos Ltda. 1968
Pesavento – Sandra Jatahy – “A Revolução Farroupilha” – Ed. Brasiliense.
Portal Maçônico - www.maconaria.net.
Kadú Schwartzhaupt

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